
Resultados da Primeira Edição em 2022
Porquê Repensar a Educação?

Em 1987, quando foi lançado o relatório O Nosso Futuro Comum (também conhecido por Relatório Brundlandt) já era apontada uma mudança na Educação como a única solução para o futuro da humanidade: “As mudanças nas atitudes humanas que clamamos dependem de uma vasta campanha de Educação, debate e participação pública. Esta campanha deve começar agora para que o progresso sustentável seja alcançado (1).”
Dizia-se que devia começar naquela altura, que era urgente, mas não começou. Em 2009, Karen Blincoe, que, naquele momento, dirigia o Schumacher College (instituição que os anfitriões frequentaram e que é inspiração deste encontro), apelava também para uma mudança na Educação e destacava a nossa responsabilidade relativa ao nosso futuro conjunto na Terra:
“Vivemos no planeta uma época extraordinária. O que fizermos agora e como agirmos terá um efeito determinante na humanidade e em inúmeras outras espécies. Somos os administradores e responsáveis não apenas por nós mesmos, mas também, uns pelos outros, pelo ambiente e pelas gerações futuras. Se os estudantes tiverem um meio que lhes permita adquirir capacidades de “alfabetização em sustentabilidade”, eles poderão contribuir para um salto coletivo para a implementação de um futuro sustentável.”2
Blincoe, K. (2009). The Handbook of Sustainability Literacy. Re-education.
Também o Papa Francisco, em 2015, na Carta Encíclica Laudato Si referia a necessidade de uma nova Educação que ajudasse as pessoas a viver com o poder que hoje a humanidade tem: “O homem moderno não foi educado para o reto uso do poder, porque o imenso crescimento tecnológico não foi acompanhado por um desenvolvimento do ser humano, quanto à responsabilidade e aos valores da consciência (…) Neste sentido ele está nu e exposto frente ao seu próprio poder que continua a crescer, sem ter os instrumentos para o controlar.”(3)
Também Martha Nussbaum, filósofa da Universidade de Harvard, referia a mesma necessidade e chamava à crise da Educação, a maior crise, aquela com maior impacto: “Estamos no meio de uma crise de enormes proporções e de grave significado global. Não, não me refiro à crise económica que começou em 2008 (…) refiro-me a uma crise que, como um cancro, passa em grande parte despercebida; uma crise que, no longo prazo, provavelmente será muito mais prejudicial para o futuro dos governos democráticos: uma crise mundial da Educação.”(4)
Estas são algumas das muitas vozes que têm vindo a expressar a necessidade de mudar. Mas em que sentido tem de ser feita a mudança?
Em 1949, Aldo Leopold, fundador da Ética da Terra, dizia que: “Apesar de quase um século de propaganda, a conservação [da Natureza] ainda avança a um passo de caracol, o avanço continua quase sempre a consistir no envio de cartas timbradas bem-intencionadas e na oratória dos congressos. Isso ou então “mais Educação para a conservação (…) Ninguém o contesta, mas será verdade que é apenas a quantidade de Educação que precisa de ser aumentada? Não faltará também algo ao conteúdo?”(5)
Falta, com certeza!
Quase 150 anos depois, não estamos muito longe: papel timbrado e mais Educação ambiental.

O Schumacher College, que nos inspira, é uma Escola onde se pode dormir na Biblioteca.
Uma Educação com foco no Ser, no Solo e na Sociedade
Precisamos de uma Educação que remeta para a descoberta, para a pessoa, que incentive a pensar e a ser, uma Educação que ensine a cuidar do Ser, mas também do Solo e da Sociedade, como defende Satish Kumar, fundador do Schumacher College e que nos apoia neste evento.
Uma Educação para a liberdade, para o pensamento crítico, para a auto-descoberta, para a ação convicta e consciente e, enquanto não nos dedicarmos a mudar, por muito que falemos, como refere Agostinho da Silva, continuamos a formatar:
“Às vezes, ouvia contar uma história sobre umas índias na Bolívia, acho que era na Bolívia, que não gostavam do feitio da cabeça com que lhes nasciam os filhos. Então, punham-lhes umas talas, para eles terem uma cabeça “apresentável”, e só quando a cabeça se aproximava do formato de um cubo, então é que as mães bolivianas ficavam satisfeitas. Hoje, as pessoas dizem: ‘Oh! Felizmente acabaram essas brutalidades, acabou essa porcaria toda.’ Mas na verdade não acabou, porque hoje, quando uma pessoa faz um curso e consegue alcançar o doutoramento, em geral sai de lá com a cabeça cúbica .”(6)
Da Silva, A. (2006). A última conversa Agostinho da Silva, Entrevista de Luís Machado, Prefácio de Eduardo Lourenço. Cruz Quebrada: Casa das Letras/Editorial Notícias

Fotografia de Agostinho da Silva no Montado do Freixo do Meio.
Como é que isso se faz? Podemos começar, citando mais uma vez Karen Blincoe:
“Repensando a nossa plataforma de Educação para incluir intuição, imaginação, sabedoria, espiritualidade e holismo, bem como conhecimento básico da interdependência e interconexão de todas as coisas. Poderíamos ensinar à próxima geração de estudantes, habilidades sobre como se relacionar com outras pessoas, como fazer parte de uma comunidade, como estar além de vencer ou ser o primeiro.” (2)
Blincoe, K. (2009). The Handbook of Sustainability Literacy. Re-education.
Abrir espaço na Educação para a alma, no sentido que lhe dava Rabindranath Tagore:
“A capacidade de pensar e de imaginar que nos torna humanos e que torna nossas relações humanas e ricas em vez de relações meramente utilitárias e manipuladoras (…) Ligar a pessoa com o mundo de modo rico, subtil e complexo (…) significa aproximar-se de outra pessoa como uma alma, em vez de ser como um simples instrumento.” (2)
Ensinar a viver a natureza porque “só podemos ter uma atitude ética em relação a alguma coisa que podemos ver, sentir, compreender, amar ou em que, de qualquer outra forma, possamos ter fé.” (5)
Se conseguirmos fazer essa mudança, educar promovendo o contacto com a Natureza, comunicar inspirando e promovendo o amor e ação, talvez consigamos a mudança de que precisamos. Esperemos que sim. “Seria necessário um cinismo total para se ser otimista. Esperar é diferente.” (7)
É isso que sentimos. As nossas universidades precisam urgentemente desta mudança.

Fotografia tirada por Josh Pratt.
O que pode esperar deste encontro *Hands-on*?
Um evento que tem como objetivo repensar a Educação Superior e experimentar novas ferramentas para a fazer mudar.
Um evento experimental onde tudo não está ainda desenhado e em que cada um tem espaço para desenhar um pouco do que vai acontecer. Onde para além do programado, há espaço para conversas significativas com pessoas que se encontra, sobre temas que se descobre e até para seguir outro rumo.
Um evento que segue o modelo educacional do Schumacher College (esta é a primeira experiência Schumacher em Portugal), em cada dia, para além dos espaços formais de aprendizagem, há um conjunto de tarefas que são desempenhadas por todos, para o bem estar de todos, onde se dará uma atenção especial à alimentação, biológica, vegetariana e deliciosa, fazendo isso tudo parte da Educação.
Um evento onde é possível aprender e partilhar num espaço acolhedor e seguro, através de atividades nas quais para além da mente, estão envolvidos outras formas de saber, que incluem o corpo, as sensações e as emoções.
Um evento profundamente conectado com a Natureza, onde se aprende através de experiências e onde há espaço para o silêncio, para ajudar a levar para a Educação, a potência de um silêncio que faz falta.
Um evento potencialmente transformador para quem participa, de onde esperamos que cada um saia com novas ferramentas e com energia para ajudar a semear a transformação nas suas organizações.
Um evento com calor acrescentado: refeições em conjunto feitas por todos, conversas à volta da fogueira, momentos de reflexão…
Dito assim, até pode assustar, é um evento que pode deixar alguns de nós fora da zona de conforto, mas esse é um risco importante para aprender e mudar, prometemos uma zona muito confortável para estar.
Um evento que, acreditamos, muitos vão chegar ao fim a querer ficar!
O Programa
Há três aspectos que consideramos importante dizer sobre os três dias do programa:
1.
Eles foram estruturados seguindo a dinâmica de um dia no Schumacher College. Para além dos espaços formais de aprendizagem, há um conjunto de tarefas que são desempenhadas por todos, tarefas como arranjar e limpar a sala, pôr as mesas e ajudar na preparação das refeições ou realizar tarefas na horta. São tarefas necessárias ao bem-estar e que nos ajudarão a ser mais comunidade e, para além disso, normalmente há conversas inesperadas e interessantes que surgem nesses momentos de fazer em conjunto, quando menos se espera.
2.
Temos como fio condutor a Teoria U, desenvolvida pelo Presencing Institute, começando por ouvir-nos uns aos outros nas nossas percepções e vontades relativas ao Ensino Superior, observando, calando a voz do julgamento, a voz do cinismo e a voz do medo, passando pelo estado de Presença e continuando para a prototipagem conjunta de novas ações potencialmente transformadoras.
3.
Serão abordados diversas temáticas, como por exemplo: As Universidades cuidadoras, a humanização do ensino, construir a partir do espaço interno de cada um, os diferentes atores do ensino, fazer entrar a Natureza na Universidade, aprender a ser comunidade. Estas e outras que vão surgir por parte dos participantes.

DIa 1 • 04 Novembro • Sexta
15h00 | Chegança (chegar, conversar, café) |
16h30 | Círculo de abertura |
19h00 | Jantar |
20h45 | Introdução Schumacher, porquê? |
22h00 | Fecho do dia |

Dia 2 • 05 Novembro • Sábado
07h30 | Meditação matinal |
08h00 | Pequeno Almoço |
09h15 | Reunião da comunidade |
09h30 | Grupos de trabalho |
10h20 | Sessões |
13h00 | Almoço |
14h30 | Sessões |
18h30 | Tempo livre e apoio à preparação do jantar |
19h00 | Jantar |
20h20 | Fogueira Sessão de partilha |
22h00 | Fecho do dia |

Dia 3 • 06 Novembro • Domingo
07h30 | Meditação matinal |
08h00 | Pequeno Almoço |
09h15 | Reunião da comunidade |
09h30 | Grupos de trabalho |
10h20 | Sessões |
13h00 | Almoço |
14h30 | Círculo de fecho |
Os Anfitriões

Os anfitriões (da esquerda para a direita): Antje, Rafa, Felipe e Ana, no Montado do Freixo do Meio.
Antje Disterheft é investigadora pós-doc no CENSE (Univ. NOVA de Lisboa), fundadora do CareLab for People & Planet e membro da Comissão Executiva da Rede Campus Sustentável. No Schumacher College fez o “Certificate in Ecological Leadership and Facilitation” e “Ecological Constellation”, que influenciaram a sua tese de doutoramento sobre processos participativos na Ensino Superior e a investigação que faz hoje, mas, sobretudo, o seu desenvolvimento profissional e pessoal.
Rafaela Graça Scheiffer é licenciada em Ciências Biológicas e Mestre em Ciência Holística pelo Schumacher College, onde também fez o curso “Mind, Matter and Life: An Unified Systemic View” e foi voluntária. Mora no Algarve, é investigadora e o que interessa é a narrativa que conecta a Água e o Clima. Nesse âmbito, está a finalizar o mestrado em Ciclo Urbano da Água, na UAlg. Trabalha na Associação Oficina com governança participativa para a sustentabilidade. Para além disso, desenha e facilita experiências de aprendizagem.
Felipe de Brito e Cunha é licenciado em Geografia e Ambiente e trabalha há mais de quinze anos em Sustentabilidade. É Mestre em Economia para Transição pelo Schumacher College e autor do livro Economia Colaborativa: recriando significados coletivos. Atualmente, é doutorando em Ciências Políticas no ISCTE-IUL, onde também é professor convidado.
Ana Roque é, há cerca de 30 anos, consultora, investigadora e docente nas áreas da Ética e da Sustentabilidade (Católica, IST, ISEG). É licenciada em Filosofia e doutorada em Sustentabilidade Social e Desenvolvimento. No Schumacher College fez dois programas: “Certificate in Ecological Leadership and Facilitation” e “Enterprise Live: Leading in the Midst of Complexity”. Vive numa aldeia e participa desde 2006 no seu projeto de desenvolvimento.
Convidados
Para além dos anfitriões, este programa contará com a participação online de dois dos fundadores do Schumacher College, Satish Kumar e Stephan Harding.

Satish Kumar é co-fundador do Schumacher College e é editor emérito da revista Resurgence & Ecologist. A sua realização mais notável é a conclusão, juntamente com um companheiro, de uma caminhada pela paz de mais de 13.000 milhas em Junho de 1962 por dois anos e meio, de Nova Delhi passando pelas capitais dos primeiros países com armas nucleares do mundo, Moscovo, Paris, Londres e Washington, D.C. Ele insiste que a reverência pela Natureza deve estar no centro de todo debate político e social.

Stephan Harding é doutor em Ecologia pela Universidade de Oxford e co-fundador do Schumacher College, onde coordenou o mestrado em Ciência Holística durante 20 anos. Trabalhou com James Lovelock, autor da Teoria de Gaia e escreveu livros emblemáticos de uma nova ciência, dentre eles Animate Earth: Science, Intuition and Gaia. Apresentou um documentário de mesmo nome. Atualmente é Fellow em Ecologia Profunda do Dartington Trust, instituição matriarca do Schumacher College.

O Local: O Montado do Freixo do Meio
É um local que nos inspira, não podíamos ter escolhido melhor local para o evento. Aliás, não é um local, é uma comunidade de projetos orientada para a sustentabilidade e que para além de nos acolher, é parceiro do nosso encontro, porque considera também que mudar a Educação é urgente e que a mudança deve ser neste sentido, do “Ser, do Solo e da Sociedade.”
Tal como descrito no seu site, a essência do Montado, a Sociedade Agrícola do Freixo do Meio promove um espaço de cooperação, de inclusão, de desenvolvimento pessoal, de trabalho e de construção de comunidade.
Procura a concretização de uma comunidade que integre harmoniosamente o ecossistema a que pertence, que seja autónoma, resiliente, pacífica e ecuménica, num assumido alinhamento com a visão do Quinto Império, de Agostinho da Silva.
A sua missão assenta na exigência, na transparência, na participação sociocrática, no conhecimento e na inovação, enriquecida pelas visões da ciência, da agroecologia, da permacultura e da soberania alimentar.
E vale a pena ver o site para conhecer melhor e ficar ainda com mais vontade de participar.

Como Participar?
O encontro, desenhado essencialmente para professores e pessoas com uma ligação ao Ensino Superior, decorrerá entre as 15h do dia 4 de Novembro e as 15h30 do dia 6 de Novembro, ficando todos os participantes hospedados e fazendo as suas refeições em conjunto no Montado do Freixo do Meio.
O evento é limitado a 20 participantes.
VALOR BASE
230€
Incluindo Refeições
(2 Pequenos-almoços, 2 Jantares, 2 Almoços e todos os Coffee-Breaks)
+
A esse valor, acresce o valor da dormida que difere em função do tipo de acomodação escolhida.
OPÇÃO 1: HOSTEL
32€
por pessoa
2 noites do evento incluídas
os quartos duplos (clique aqui para fotos) são muito simples mas confortáveis, com aquecimento, acesso a uma cozinha e casas de banho partilhadas. O valor por pessoa é de 16€ por noite, ou seja, 32€ para os dois dias do evento.
Valor total 262€
OPÇÃO 2: TURISMO RURAL
45€
por pessoa
2 noites do evento incluídas
Nesta versão, os quartos são duplos (cama de casal/duas camas de solteiro) com casa de banho privativa. O valor é 22,50€ por pessoa por noite, ou seja, 45€ os dois dias.
Valor total 275€
OPÇÃO 3: QUARTOS INDIVIDUAIS
Disponíveis
sob consulta e conforme disponibilidade
Donativo
Caso tenha disponibilidade e quiser fazer um donativo adicional para o evento, ele será muito bem-vindo.
Para que este evento pudesse ser realizado de modo a permitir o acesso ao maior número de interessados, houve muitas pessoas que aceitaram trabalhar sem serem remuneradas. Seria, no entanto, importante que o pudessem ser. Por isso, este preço que conseguimos fazer, remete para uma reflexão individual, na qual, a critério de cada um, se busca encontrar o equilíbrio entre o quanto poderiam acrescentar para além do valor que cobre os custos do evento – entre querer, poder e entender o valor deste trabalho.
Inscrições
A inscrição deverá ser feita até 28 de Outubro de 2022.
O pagamento deve ser feito no ato da inscrição para o IBAN da Soc Agr Freixo Meio LDA:
PT50 0033 0000 0017 2440 0050 5
Parceiros



Agradecimentos
À Tatiana Zanghi pelo material fotográfico, por nos acompanhar na visita e pela generosidade em nos ajudar, o nosso muito obrigad@!
À Cláudia Alves por nos doar muitas horas do seu tempo para fazer o cartaz, o site, as imagens para os diferentes suportes, o nosso muito obrigad@!
Estamos a disposição para esclarecimentos em repensar.pt@gmail.com
Referências
(1) ONU (1987). Our Common Future, From One Earth to One World.
(2) Blincoe, K. (2009). The Handbook of Sustainability Literacy. Re-education.
(3) Papa Francisco (2015), Carta Encíclica Laudato Si. Acessado em 14/09/22 e disponível em:http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-la…
(4) Nussbaum, M. (2017). Sem fins lucrativos: por que a democracia precisa das humanidades. WWF Martins Fontes.
(5) Leopold, A. (2008). Pensar como uma montanha. Águas Santas: Edições Sempre em pé.
(6) Da Silva, A. (2006). A última conversa Agostinho da Silva, Entrevista de Luís Machado, Prefácio de Eduardo Lourenço. Cruz Quebrada: Casa das Letras/Editorial Notícias.
(7) Steiner, G., & Spire, A. (2000). Barbarie de l’ignorance. Ed. de l’Aube.